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ARTIGOS & OPINIÕES

Os ladrões da Seguridade Social

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Por  Wagner Balera*

Caros leitores, a intenção deste breve artigo é explicar, minimamente, o financiamento da Seguridade Social, do qual a contribuição sobre a folha de salários, paga pelas empresas, é apenas uma das receitas. Contudo, trata-se de parcela significativa. Então, como funciona isso? Toda a sociedade financia a Seguridade Social, consoante comando constitucional.

A folha, o faturamento e o lucro foram estruturados, na Constituição de 1988, como contribuições diretas. Desse modo, a sociedade financia diretamente o sistema de seguridade social por intermédio dessas três modalidades de tributos, denominadas contribuições sociais. Posteriormente, sobreveio outra contribuição, que está prestes a ser revogada pela reforma tributária, que incide sobre importação de bens e produtos do exterior, acrescentada ao artigo 195 da Constituição.

Ademais, as pessoas políticas – União, Estados, Distrito Federal e Municípios, também devem financiar a Seguridade Social, mediante destinação de parcela das respectivas receitas de impostos.

Todo o montante amealhado é alocado a um fundo, de natureza contábil, do qual serão sacadas as prestações da Seguridade Social. Prestações são espécies de benefícios e serviços, geridas e administradas pelos três subsistemas de seguridade: o Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

Ao lado desse sistema geral, existem os regimes próprios dos servidores públicos, cuja contabilidade é apartada.

Imaginemos que se trata de uma grande caixa – e, antigamente, as instituições de previdência eram assim chamadas, caixas de aposentadoria e pensões, por exemplo, Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Bancários. Para essa caixa, são vertidas as contribuições sociais e os aportes orçamentários das pessoas políticas, e, dessa caixa, saem as prestações.

Retenhamos a imagem de uma caixa d’água. Entradas e saídas.

Ora, na hidráulica das caixas, há um ladrão, aquele dispositivo regulador do excedente de água, que evita o transbordamento da caixa. Pois fiquem sabendo que, na Seguridade Social, a caixa teve acoplados dois ladrões.

Quer dizer que nem todo o montante arrecadado vai para a saúde, para a previdência e para a assistência.

Dois ladrões, oficialmente instalados, retiram parte das receitas da seguridade social e as destinam a outros fins.

O primeiro ladrão tem um nome disfarçado: EPU – Encargos Previdenciários da União.

Você pode pensar que é algo normal.

Mas, não. Esclareci há pouco que os servidores públicos fazem parte de regimes apartados, denominados regimes próprios. Só que o Regime Geral, por inexplicável distorção, paga parte da conta das prestações devidas pelos regimes próprios.

É um ladrão oficial que tira dinheiro da massa total e verte para o regime de servidores públicos. Tal desvio ocorre há muitos anos.

Então, o regime previdenciário dos trabalhadores em geral, que deveria estar sendo custeado pelas contribuições dos trabalhadores e das empresas, como define a lei, perde uma parte da sua arrecadação e subsidia os benefícios devidos aos dependentes dos servidores públicos.

O desvio é inexplicável.

O segundo ladrão foi encravado na Constituição. Instituído pela Emenda Constitucional de Revisão n 1, de 1994, deveria durar dois anos. Foi chamado de Fundo Social de Emergência. Mudou de nome e se transformou em Fundo de Estabilização Fiscal, que duraria mais três anos, conforme a Emenda Constitucional nº 10, de março de 1994. E assim foi ficando, até receber novo batismo como Desvinculação das Receitas da União – DRU – que foi sendo prorrogado e terminaria, pela Emenda Constitucional n. 93, de 2016, em 2023.

Uma emergência que se arrastou desde 1994 até 2023.

Parecia que iria terminar, mas não. Agora a Emenda Constitucional nº 132, de 2023, estende até 2032 a eficácia. Quase quarenta anos de desvio de recursos da seguridade social.

O que acontecerá com a reforma tributária? O ladrão também vai operar sobre a contribuição que acaba de ser proposta, em substituição ao COFINS e ao PIS/PASEP, juntamente com a da importação de bens vindos do exterior?

É o ladrão que toma novo formato, no seio da reforma tributária.

Portanto, uma parte dos “dinheiros” da Seguridade Social será desviada grosseiramente das finalidades da Saúde, da Previdência Social e da Assistência Social.

Tudo convivendo com o discurso oficial que proclama o déficit do sistema previdenciário.

E é o momento da Reforma Previdência.

Houve várias reformas previdenciárias. Quatro emendas constitucionais. Já se discute nos bastidores a elaboração de outra PEC para reformar a Previdência novamente. Porque não dá para continuar como está.

E o estranhável mundo de duas realidades paralelas, o da Reforma Tributária, que deve tratar das entradas para a caixa, com estrita observância do critério constitucional do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema; e a realidade da Reforma Previdenciária, que cuida e deve cuidar da saída.

Tratam-se de realidades distintas, mas que se interpenetram.

As pensões e as aposentadorias, as pensões, os auxílios e as sempre crescentes despesas da saúde e da assistência social serão sustentáveis no médio e no longo prazo? Possivelmente não, porque todas as projeções até aqui formuladas não se viram confirmadas pelos dados de realidade.

A Reforma Tributária, promulgada pela Emenda Constitucional nº 132, de dezembro de 2023, insere no art. 195, o inciso V, que cria a contribuição social sobre bens e serviços, que passará a vigorar em 2027.

Na mesma Emenda, são eliminadas diversas fontes de custeio, em manifesta interface com o sistema de proteção social, mas com impressionante descompromisso com o potencial de dispêndio futuro das saídas do caixa da Seguridade Social. A Reforma Previdenciária não amadurece, porque cada uma das quatro que já foram feitas até agora nem mesmo produz seus frutos e já se vê transformada em outra reforma. Fenômeno que se repete desde 1998.

Muito provavelmente, aos leitores deste texto, não estará garantido o direito de, com previdência, projetarem o respectivo futuro previdenciário. Se é que haverá algum futuro para o vigente modelo.

Recomendo, expressamente, que cuidem de contratar, o quanto antes, seus planos de Previdência Complementar. Aproveitem-se do incentivo fiscal que, por enquanto, ainda lhes dá vantagem expressiva.

Wagner Balera – É Livre-Docente em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Doutorado em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Mestrado em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Graduado em Direito pela Pontif& iacu te;cia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Autor de mais de 30 livros em Direito Previdenciário. Coordenador dos cursos de graduação e pós-graduação de Direito Previdenciário da PUC/SP.
 Coordenador do Núcleo de Estudos de Doutrina Social, Faculdade de Direito da PUC-SP.
É Professor Titular de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Coordenador da Revista Brasileira de Direitos Humanos. Membro da Academia Paulista de Direito. Membro da Academia Paulista de Letras Jurídicas. Membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência. Membro da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social. Membro da Academia Brasileira de Direito Tributário. Advogado.
Presidente do IPCOM (Instituto de Previdência Complementar e Saúde Suplementar).

 

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Quando a fé encontra a floresta: a urgência de cuidar da nossa casa comum

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Por Sonia Mazetto*

Você já ouviu falar da Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil)? Talvez ainda não, mas se você acredita na força do coletivo, na espiritualidade como ponte de transformação e no poder das pequenas ações, está mais perto desse movimento do que imagina. Eu, como curiosa que sou, já faço parte.

Esse movimento é um projeto muito especial que une líderes religiosos de diversas tradições, incluindo cristãos, ayahuasqueiros, espíritas, povos indígenas, entre outros, todos em torno de uma missão comum: defender as florestas tropicais, combater as mudanças climáticas e proteger os direitos de comunidades tradicionais. O mais importante disso tudo é entender que atuamos muito além da política, mas também pelo respeito à criação, à vida e à dignidade.

Quando conheci o movimento, a primeira pergunta que me veio foi: o que exatamente significa “inter-religioso”? A resposta, para minha surpresa, era mais simples e mais poderosa do que eu imaginava. Trata-se de um chamado para que todas as religiões, sem abrir mão de suas crenças ou práticas, assumam seu papel de liderança na formação de consciência ambiental. Esse seria um convite para que os líderes religiosos, e toda a sua potência como porta-vozes, possam estimular as pessoas a agirem e adotarem valores em atitudes.

Às vezes nos parece distante a ideia de cuidar do meio ambiente. É como se não morássemos no planeta. Agora pense em seu quintal, a Terra vai além de nosso quintal, ela é nossa casa. O movimento mostra que o cuidado ocorre em ações simples, como promover limpeza de parques com jovens, falar sobre descarte correto do lixo nas igrejas, abordar a crise hídrica com crianças e até organizar campanhas comunitárias com apoio de tecnologias sociais, como filtros de água para populações em risco. Acontece também no simbólico: ao plantar uma árvore em uma celebração, ao orar pela Terra, ao reconhecer que o planeta adoece quando o ser humano se distancia do cuidado.

Esse movimento me tocou profundamente. Não apenas pela causa ambiental, mas porque ele fala também de saúde espiritual, de convivência, de tolerância religiosa. Num mundo onde ainda há quem quebre imagens de fé por ódio ou medo do diferente, o IRI escolhe o caminho inverso: o da união pela vida. Afinal, o planeta é um só e a floresta é de todos, seja você de qual crença for.

Não há mais tempo para romantizar o colapso ambiental. Os dados são duros, as queimadas aumentam a cada ano, a água limpa falta em muitos lugares, as enchentes devastam onde antes nem chovia. Não há venda que esconda que o clima extremo já é realidade, mas acredito que ainda há espaço para esperança, e ela começa por mim e por você, com ações locais, sustentadas por fé, ciência e comunidade.

O planeta não é cenário, é personagem e está pedindo socorro. Talvez o profeta Isaías já soubesse disso quando questionava a dor da Terra… e pode ser que a resposta que ele recebeu, de que o sofrimento seria passageiro e que haveria restauração, ainda venha a se realizar. Mas nada “cai dos céus”, sem esforço e mudança e, com certeza, sem união.

Cuidar do planeta não é um gesto grandioso, é um gesto diário, como quem rega o que ama. Afinal, proteger a Terra é, no fim das contas, cuidar da nossa própria história e, se pensarmos bem, o futuro começa onde nossos pés pisam HOJE. Que a floresta que cresce lá fora também floresça dentro de nós.

 

*Sonia Mazetto –

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O caminho até a cidadania portuguesa: uma jornada pela descendência sefardita

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Processo exige documentação extensa e apoio jurídico especializado

Fortes Máximo, 69 anos, vive no estado do Rio de Janeiro e sempre soube de suas raízes familiares, mas não imaginava que sua ancestralidade o levaria a buscar a nacionalidade portuguesa. Seu antepassado do século XV serviu à coroa espanhola em um período marcado pela Inquisição, que resultou na expulsão de judeus sefarditas da Península Ibérica.

Desde 2015, Portugal permite que descendentes de judeus sefarditas solicitem a nacionalidade portuguesa, reconhecendo a herança histórica dessas comunidades. No entanto, o processo é complexo e exige comprovação documental detalhada da linhagem familiar. Máximo iniciou sua jornada com o auxílio de um genealogista, mas enfrentou dificuldades quando a Comunidade Israelita de Lisboa, responsável por certificar a ascendência sefardita, não aceitou a documentação apresentada. Sem essa certificação, o pedido de nacionalidade não poderia prosseguir.

Diante deste obstáculo, ele decidiu aprofundar seus próprios estudos genealógicos, consultando arquivos históricos e corrigindo inconsistências em registros antigos. Após reunir as evidências necessárias, ainda enfrentava um desafio: o tempo. Com problemas de saúde, precisava que seu pedido fosse analisado com urgência. Foi então que procurou a assessoria jurídica da Martins Castro, especializada em processos de nacionalidade portuguesa. “Se tivesse desde o início uma assessoria jurídica que entende a complexidade, sabe quais passos são necessários para que o processo todo seja bem sucedido e agilizado, talvez já estivesse com a minha nacionalidade concluída”, afirma Máximo.

A equipe jurídica, liderada por Isabel Comte, jurista que atuou por 16 anos como conservadora dos registros na Conservatória dos Registos Centrais de Lisboa, entrou com um pedido especial para acelerar o trâmite. A experiência no setor fez diferença: o caso de Máximo avançou. Hoje, ele aguarda os últimos passos para concluir sua nacionalidade.

Nos últimos anos, o processo de nacionalidade portuguesa por descendência sefardita tem passado por mudanças significativas. A Lei Orgânica n.º 1/2024, de 5 de março, introduziu a exigência de residência legal em Portugal por pelo menos três anos para os candidatos, tornando o procedimento ainda mais complexo. Além disso, o aumento no número de solicitações resultou em atrasos consideráveis na análise dos pedidos, com médias de espera entre dois a três anos para processos de descendentes de judeus sefarditas.

A experiência de Fortes Máximo evidencia a importância de uma assessoria jurídica qualificada para navegar pelas complexidades do processo de nacionalidade portuguesa por via sefardita. A comprovação documental minuciosa e as constantes alterações legislativas tornam o acompanhamento profissional não apenas recomendável, mas essencial para o sucesso da solicitação.

Sobre a Martins Castro

Com sede em Lisboa, Portugal, Martins Castro foi fundada pelo brasileiro Renato Martins e presta consultoria jurídica especializada em mobilidade internacional para indivíduos e empresas interessados em estabelecer-se na Europa.

Entre os serviços oferecidos estão processos de nacionalidade portuguesa por via sefardita, reconhecimento de nacionalidade para descendentes de cidadãos portugueses, nacionalidade espanhola, obtenção de vistos e autorizações de residência, abertura de negócios, consultoria empresarial, investimentos e habilitação profissional.

A Martins Castro mantém operações em Lisboa e unidades no Brasil, México, Colômbia, Estados Unidos e Israel, viabilizadas por uma rede internacional de conexões.

 

Por Adriana – Agência EmeDois

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