A palestra de abertura do segundo dia do evento Cibus Veritas: Comida de Verdade para Todos, Agricultura Familiar contra a Fome, nesta sexta-feira (19), foi marcada por reflexões profundas sobre os impactos da desigualdade social na alimentação dos brasileiros. O painel “Comer mal não é escolha: desigualdade social, tempo e ultraprocessados” teve como destaque a exposição do economista e professor Walter Palmieri Júnior, mediada pelo promotor de Justiça Henrique Schneider Neto.Ao abrir o painel, o promotor de Justiça trouxe uma abordagem filosófica sobre o tema, destacando a importância da segurança alimentar como um pilar do Estado Democrático de Direito. “A comida é física, mas também metafísica. Ela ocupa um lugar essencial na defesa da dignidade humana”, afirmou.Em sua exposição, o professor Walter Palmieri Júnior provocou o público ao questionar a ideia de liberdade na escolha dos alimentos. “A alimentação não é apenas uma decisão individual. Ela é moldada por fatores estruturais como desigualdade, falta de tempo e a lógica da indústria de ultraprocessados”, explicou.Palmieri destacou que o aumento do custo dos alimentos saudáveis, aliado à precarização do tempo e das condições de moradia, empurra a população para opções menos nutritivas. “Nos últimos 15 anos, as frutas subiram o dobro do preço em relação aos refrigerantes”, exemplificou. Ele também criticou a ausência de incentivos à alimentação natural e o poder da indústria alimentícia em moldar desejos e paladares, especialmente entre crianças.O economista alertou ainda para os custos ocultos da má alimentação, como o impacto crescente sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o meio ambiente. “O SUS gasta hoje R$ 4 bilhões por ano com câncer, e esse número deve subir para R$ 7 bilhões até 2030”, disse, defendendo a tributação de produtos nocivos à saúde pública.Após a palestra, o promotor Henrique Schneider fez uma intervenção, refletindo sobre os desafios e a necessidade de reconectar-se com a essência humana. O debate foi enriquecido por falas do público, como a de Rosana de Omolu, representante de comunidade tradicional de matriz africana, que destacou o racismo estrutural presente na insegurança alimentar e a desvalorização dos saberes ancestrais.O procurador de Justiça José Antônio Borges Pereira também contribuiu com o debate ao citar exemplos emblemáticos da lógica de mercado e da resistência cultural, a exemplo das grandes corporações que buscam o domínio de alguns mercados. “Esses exemplos mostram como o mercado pode apagar identidades e práticas culturais valiosas”, pontuou.O painel encerrou a programação matutina do o evento. O Cibus Veritas é uma iniciativa da Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa da Cidadania, Consumidor, Direitos Humanos, Minorias, Segurança Alimentar e Estado Laico, em parceria com o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf) – Escola Institucional do MPMT e o Centro de Apoio Operacional (CAO) Direitos Humanos, Diversidade e Segurança Alimentar. Conceito – O termo Cibus vem do latim e significa “alimento” ou “comida”, enquanto Veritas também tem origem latina e significa “verdade”. No contexto do encontro, Cibus Veritas representa um chamado à reflexão sobre o direito à alimentação saudável, justa e acessível. A expressão pode ser interpretada como “Comida de Verdade”, reforçando o compromisso com práticas alimentares que respeitam a saúde, o meio ambiente e a dignidade humana.
Fonte: Ministério Público MT – MT